Borgonha: a charmosa região vitivinícola francesa que não perde a sua majestade.
A França continua sendo o principal país produtor de vinhos em todo o mundo, não apenas pela sua tradição de cultivar as melhores varietais ou pelo seu “terroir” único, mas também pela sua originalidade e pioneirismo nas técnica de vinificação, fatores que se associam para criar vinhos como os da célebre Domaine de la Romanée-Conti, em Vosne-Romanée, na Côte de Nuits, que se tornaram os mais emblemáticos e caros do mundo!
Na nossa coluna dessa semana, queremos então chamar a atenção do nosso leitor para a região da Borgonha! Essa longa e estreita faixa de terra compreende, em direção ao sul, a partir de Dijon, o Vale do Rio Saône, incluindo, além da Côte D´Or, as regiões a Côte Chalonnaise e o Mâconnais, ao sul, e as subregiões bem distribuídas de Beaujolais, ainda mais ao sul. Faz parte ainda da Borgonha a famosa região de Chablis, mais ao norte, abaixo de Paris.
O clima da Borgonha é do tipo continental, com invernos bastante rigorosos, verões mais frescos e primaveras sujeitas a muitas geadas e chuvas de granizo, o que, por vezes, compromete a colheita. Devido à situação favorável de seus vinhedos – localizados em encostas com declives suaves e boa exposição ao sol (com uma altitude média de 220 metros), e orientados nos sentidos sul, sudeste e leste –, as uvas ficam protegidas das geadas e dos ventos, o que torna possível o sucesso do cultivo da vinha. Os outonos secos e os verões quentes vão também contribuir para a maturação das uvas. A média anual de pluviosidade é de 690 ml.
Talvez o grande segredo da Borgonha esteja no seu solo, essencialmente calcário, resultante da deposição, durante milhões de anos, de restos de animais e conchas. Carbonato marinho, areia e argila também entram na sua composição. Tais composições mudam em distâncias relativamente curtas e, associadas às variáveis microclimáticas, produzindo um grande número de diferentes “terroirs”.
As principais uvas da Borgonha são as célebres Chardonnay, uma cepa branca relativamente adaptável e de fácil manuseio, e a delicadíssima e exigente cepa tinta que ficou conhecida como a “rainha da Borgonha”, e que produz vinhos inigualáveis: a Pinot Noir. Há que mencionar ainda a uva Gamay, que goza de uma certa fama em razão da produção dos Beaujolais.
A Borgonha é formada por pequenas microrregiões, com mais de 100 apelações de origem controlada (as famosas AOCs). É constituída por pequenos produtores, cooperativas e negociantes, sendo que, se um vinhedo pertence a um só dono, é denominado “Monopole”. Por outro lado, existem vinhedos como o de “Clos Vougeot”, que possui 51 hectares divididos entre 80 proprietários diferentes, cada um produzindo à sua maneira na parcela que lhe cabe. No total, são mais de 4300 denominações de propriedade das quais 85% têm menos de 10 hectares.
A Borgonha classifica seus vinhos em AOC Regionais (ou Genéricos), usadas em vinhos mais simples, provenientes de diversos pontos da região (Bourgogne, Bourgogne Grand Ordinaire, Bourgogne Passe-Tout-Grains, etc.) ou de uma sub-região (Chablis, Côte de Beaune, Mâcon, etc), alguns feitos com uvas ou métodos vinificação específicos (Bourgogne Aligoté,Cremant de Bourgogne, etc.). As 22 AOCs regionais representam 53,3% da produção da Borgonha.
As AOCs Comunais são atribuídas a vinhos provenientes de comunas (distritos ou municípios), tais como Chambolle-Musigny, Nuits-Saint-Georges, Gevrey-Chambertin,e que perfazem 34% dos vinhos borgonheses. Nas AOCs Comunais estão vários “domaines” ou “clos” que têm o mesmo significado dos “châteaux” em Bordeaux.
A AOC “Premier Cru” é atribuída aos vinhos de ótima qualidade de algumas comunas, trazendo nos rótulos o seu nome, seguido do nome do vinhedo de onde procedem as uvas (Beaune – Les Bressandes, Mersault – Les Charme, etc.). São 562 “climats”, equivalentes a 11% dos vinhos borgonheses.
Na mais alta escala de classificação estão os AOC “Grand Cru”, exclusiva de 33 vinhos de qualidade excepcional de algumas comunas (32 na Cote d’Or e 1 em Chablis), e que correspondem a apenas a 1,7% dos vinhos da região. Esses vinhos não indicam a região ou comuna onde são produzidos, possuindo denominação própria, ou seja, simplesmente o nome do vinhedo (Ex: Corton-Charemagne, Musigny, Romanée Conti).
Uma vez ressaltadas algumas características dessa região, vamos comentar sobre um vinho comunal: o “Savigny-les-Beaune”, safra 2012, produzido na região de Côtes de Beaune, e comercializado no Brasil pela importadora Decanter.
De coloração vermelho rubi com reflexos granada, esse vinho da varietal pinot noir apresenta um teor alcóolico de 13 graus, perceptíveis pelas suas lágrimas mais densas a escorrer pela taça.
No nariz, predominam aromas de bagas maduras, cerejas maduras, especiarias, “sous bois”, notas de chocolate, passando 15 meses em barricas de carvalho, sendo que 15% delas são novas. estando em sua plena juventude. Em boca é harmônico, possuindo taninos polidos, ótima acidez, e um retrogosto persistente.
Não é à toa que os vinhos da Borgonha continuam sendo tão aclamados e respeitados em todo o mundo!
Um beijo e um brinde!
Marcio Morena
Marcio Morena é advogado, professor universitário e enófilo.