Enoturismo na região de Chianti: os vinhos elaborados em meio às bucólicas paisagens da bela Toscana. A região vinícola conhecida como Chianti está localizada na famosa Toscana, uma das regiões mais belas, ricas e cultas da Itália. Nosso colunista Marcio Morena/enólogo, está nessa viagem e conta tudo hoje no Conceito de Luxo.
A região vinícola conhecida como Chianti está localizada na famosa Toscana, uma das regiões mais belas, ricas e cultas da Itália.
Saindo das inebriantes cidades renascentistas de Florença ou Siena, e dirigindo-nos ao campo, já se consegue apreciar paisagens de tirar o fôlego! Entre ciprestes, oliveiras, rochas e bosques, é muito fácil imaginar-se em um filme… Aliás, muitos já foram rodados por lá, a exemplo de “Sob o sol da Toscana”, “O paciente inglês”, e “Chá com Mussolini”.
A zona mais tradicional, denominada “Chianti”, foi a primeira do mundo a ser demarcada (em 1716), limitando-se, à época, às terras próximas das vilas de Radda, Gaiole e Castellina, sendo que Greve foi adicionada apenas posteriormente. Hoje, essa zona é considerada como histórica, produzindo alguns dos melhores vinhos italianos, elaborados a partir da famosa Sangiovese, e que recebem o nome de “Chianti Clássico”.
A Sangiovese é uma das cepas mais importantes de toda a Itália, e a principal uva da Toscana. É também é conhecida pelas seguintes designações: Sangiovese Grosso, Brunello, Uva brunella, Morellino, Prugnolo, Prugnolo Gentile, Sangioveto, Tignolo, Sangiovese Piccolo e Uva Canina.
Sua origem é incerta, mas algumas informações históricas remetem a registros de que no século XVI já era produzida. Sua produção cobre 11% da superfície vitivinícola nacional, sendo considerada uma das “jóias” da Toscana. Proporciona ao vinho grande elegância, acidez, versatilidade e complexidade.
Na região ela se distingue em três grandes famílias: a Sangiovese Grosso, que entre outras variedades compreende a uva Brunello utilizada na produção do vinho homônimo; a Sangiovese Piccolo, usada em grande parte da região; e a Prugnolo Gentile, utilizada principalmente na produção do vinho Nobile di Montepulciano, uma uva de amadurecimento tardio, ácida, tânica e frutada.
Chianti possui mais de 7 mil vinhedos. Além de Chianti Clássico, existem mais seis subzonas: a “Chianti Ruffina”, a leste de Florença, produz vinhos elegantes com grande potencial de envelhecimento, podendo chegar a 50 ou 60 anos em garrafa, se bem armazenados. Algumas das propriedades mais distintas são encontradas próximas a San Gimignano, na subzona de “Chianti Colli Senesi”. As outras subregiões de Chianti que merecem destaque são “Colli Fiorentini”, “Colli Pisane”, e “Colli Arentini”, e “Montalbano”.
E em se tratando de enoturismo, a cidadezinha de San Gimignano merece uma visita! Localizada no alto de uma colina, a cidade fica a 62 km de Florença e foi declarada como patrimônio mundial da UNESCO. Com uma população de pouco mais de 7.000 habitantes, já foi uma das cidades mais prósperas da região, principalmente entre os séculos XII e XIII, pois ficava justamente na rota entre o norte e o sul da Itália. É uma cidade totalmente medieval, cercada por uma muralha, e extremamente charmosa.
Interessante recordar que em 1872, o Barão de Ricasoli, que foi ex-primeiro ministro da Itália, estabeleceu uma distinção entre duas formas de Chianti: um simples para ser bebido jovem e uma outra versão mais ambiciosa para guarda. Para a versão mais jovial, o barão permitiu que fosse acrescentada um pouco da então predominante uva Malvasia ao corte, junto com as uvas tintas cultivada, Sangiovese e Canaiolo.
Quando as leis de DOC (Denominação de Origem Controlada) definiram Chianti em 1963, permitiu-se um máximo de 30% de uvas brancas nos Chianti de qualquer estilo. No entanto, tornou-se regra a elaboração de Chiantis pálidos, fortalecidos frequentemente com tintos importados do sul da Itália, tornando-se necessário mudar as regras para melhorar a qualidade.
Em 1975 a família Antinori lançou um conceito de vinho na região que ficou conhecido mundialmente como “Supertoscano”. O “segredo” consistia em acrescentar basicamente Cabernet Sauvignon ao invés da branca Trebbiano, tradicionalmente utilizada para dar leveza e acidez. E assim produziu-se pela primeira vez o Tignanello, sendo a sua composição restante feita da casta tradicional toscana: Sangiovese.
Em função dessas inovações, a denominação “Chianti” não pôde ser utilizada e então, provocativamente, em seu rótulo inseriram a classificação mais baixa existente na enologia italiana: “vino da tavola”. O Tignanello foi o primeiro “Supertoscano” (expressão criada por ingleses e americanos) que alcançou alta qualidade e preço também. Antinori é ainda hoje o mais célebre produtor de vinho da Toscana.
Para fazer frente à rebeldia dos Supertoscanos que, em parte, descaracterizavam o conceito clássico de Chianti, se melhorou e muito a sua elaboração, criando-se uma versão “Riserva”, que nos dias representa 20% da produção de toda a região.
O Chianti clássico é atualmente um vinho muito sério, produzido substancialmente (entre 80% a 100%) com uvas Sangiovese de baixa produção e de qualidade superior, envelhecido em madeira com expectativa de vida de 10 anos ou mais. As outras varietais permitidas legalmente para serem acrescentadas à Sangiovese são Canaiolo, Colorina, Cabernet e Merlot. Desde 2006 as uvas brancas foram proibidas no Chianti clássico, apesar de poderem ser usadas no Chianti mais simples.
Alguns dos Chianti são produzidos sob DOCH (“Denominazione d’Origine Controlatta e Garantita”), o que, nem sempre, é uma garantia de qualidade. Mas os bons Chianti, sem dúvida, são aqueles que conseguem transformar a Sangiovese, naturalmente clara e ácida, em vinhos complexos e elegantes.
Um beijo e um brinde!
Marcio Morena/ Enólogo