Nona edição do evento “Tocats pel Vi”
Barcelona, Espanha
Tivemos a grande satisfação de participar da 9ª edição do evento “Tocats pel Vi”, em Barcelona (Espanha), organizado pela distribuidora La Bodeguilla que, um ano mais, reuniu prestigiosas vinícolas espanholas e internacionais, oferecendo a um público especializado excelentes vinhos e espumantes, além “master classes” com alguns dos enólogos das vinícolas participantes.
O evento foi realizado no Majestic Hotel & Spa, um luxuoso hotel cinco estrelas localizado no Paseo de Gracia (ou Passeig de Gràcia, em catalão), uma das principais avenidas de Barcelona e mais famosas da Espanha, devido à sua importância turística, pois alberga notáveis obras da arquitetura modernista projetadas pelos arquitetos Antoni Gaudi e Lluís Domènech i Montaner, todas declarados patrimônio mundial da humanidade, além diversas lojas de marcas luxuosas como Armani, Burberry, Bvlgari, Carolina Herrera, Cartier, Chanel, e tantas outras.
No que concerne aos vinhos espanhóis, vale lembrar que a Espanha é um dos mais tradicionais países produtores, cuja história do vinho remonta a mais de 4.000 a.C., sobrevivendo à passagem dos bárbaros na Idade Média e também aos árabes. Interessante notar que quando a filoxera atingiu os vinhedos franceses, em meados do séculos XIX, muitos produtores migraram para a Espanha e, claro, levaram suas avançadas técnicas de vinificação.
A partir da década de 1990, a indústria vitivinícola espanhola sofreu um significativo processo de modernização – como todo o país, aliás -, inclusive no que respeita à regulamentação do setor, e hoje possui a maior área de vinhedos do mundo, sendo o terceiro maior produtor mundial de vinhos e espumantes.
Dentre as varietais brancas mais típicas, destacam-se Verdejo, Albariño, Xarel-lo e Viura, e entre as tintas, Tempranillo (a mais emblemática de todas), Garnacha, Monastrell, Cariñena, Graciano, Mencía e Mazuelo. No entanto, também se produzem excelentes vinhos a partir de uvas não autóctones, como Cabernet Sauvignon, Merlot, Sauvignon Blanc e Chardonnay.
O setor vitivinícola espanhol é regido por normas próprias de qualificação, devidamente registradas junto à União Europeia, sendo certo que a mais relevante divisão se dá entre os vinhos de Denominación de Origen Protegida (DOP) e os de Indicación Geográfica Protegida (IGP). Os demais vinhos que não se enquadrem nos critérios DOP ou IGP só podem ser rotulados como “Vino”.
A categoria mais prestigiosa de vinhos ostenta a classificação “Denominación de Origen Calificada (DOCa)”, que conta com DOs existentes há pelo menos 13 anos, sendo que atualmente apenas duas regiões se qualificam como tal: La Rioja e o Priorat. E, tratando de regiões, costuma-se dividir o mapa vitivinícola espanhol nas seguintes macrorregiões, além das já citadas: Navarra, Aragón, Cataluña, País Basco, Galícia, Castilla y León, Castilla La Mancha, El Levante, Andaluzia, Extremadura, Ilhas Canárias e Ilhas Baleares.
No evento pudemos degustar ótimos vinhos espanhóis. O primeiro vinho que queremos destacar é da prestigiosa vinícola Remírez de Ganuza, fundada em 1989 por Fernando Remírez de Ganuza, cujo objetivo é fazer uma seleção exaustiva da uva e intervir minimamente no seu processo de elaboração para ser o mais fiel possível à colheita e às características dos vinhedos.
No evento degustamos o interessante Viña Coqueta, safra 2008, composto de 90% Tempranillo e 10% Graciano, com uma passagem de 26 meses por barricas novas de carvalho, sendo 85% francês e 15% americano. De um vermelho rubi intenso e brilhante, apresenta lágrimas densas, aromas de frutas negras em compota, notas balsâmicas, frutas secas, baunilha, notas tostadas, minerais e grafite. Na boca é denso, carnoso, frutado, com notas de especiarias, e final longo (preço médio: 35 euros).
Outros vinhos interessantes que provamos foram os da linha “Chivite Colección 125”, lançado ao mercado em 1985 para celebrar a sua primeira exportação, em 1860. São vinhos que expressam qualidades particulares de “terroir”, e que têm produção limitada, recebendo um meticuloso tratamento. O tinto é um monovarietal Tempranillo que passa por 14 meses em barris de carvalho francês (40% de primeiro uso e 60% de segundo uso), apresenta aromas de fruta e nuances de torrefação, harmonizando perfeitamente com carnes vermelhas em assadas na brasa (preço médio: 21 euros).
Os vinhos da jovem Vinícola Succés também merecem destaque, não somente pela sua qualidade e identidade, mas pelos curiosos rótulos. A sua história é muito interessante, pois em 2011 Albert Canela y Mariona Vendrell tiveram a oportunidade de criar a sua própria vinícola graças à iniciativa do projeto “Viver de Celleristes”, situado em Barberà de la Conca. Esta iniciativa permite que pessoas empreendedoras levem à cabo o seu projeto de produzir vinhos, durante um período máximo de dez anos, de maneira singular e minimizando os riscos econômicos, já que as instalações dispõem do maquinário necessário para a elaboração da bebida.
O seu vinho “Mentider” (mentiroso em catalão), é elaborado por meio de fermentação espontânea em depósitos de aço inoxidável e macerado por aproximadamente 45 dias, descansado em barricas procedentes da Borgonha durante uns 9 meses, sendo produzidas 1800 garrafas ao ano. Da monovarietal Trepat, é fresco, com aromas de frutas vermelhas maduras, especialmente cereja em licor, especiarias e notas balsâmicas. Na boca predominam os sabores frutados e apresenta bom equilíbrio e acidez, com um final longo e toques defumados (preço médio: 14 euros).
Por fim, não podemos de deixar de referir-nos aos excelentes vinhos doces da Xímenez-Spínola e aos deliciosos champagnes da francesa Taittinger!
A Espanha continua mantendo a sua tradição vitivinícola mundial, desenvolvendo vinhos e espumantes excelentes e reconhecidos em todo o mundo.
Um beijo e um brinde!
Marcio Morena
Enófilo