O VINHO COMO SINÔNIMO DE LUXO E ASCENSÃO SOCIAL NO BRASIL
Por Marcio Morena
Nunca se viram tantas pessoas interessadas pelo universo do vinho no Brasil como atualmente. Parece ser que o vinho se converteu num “objeto de culto” não apenas para os homens, mas principalmente para as mulheres que, ao longo dos últimos decênios, vêm conquistando um protagonismo profissional, social e político inédito no cenário nacional.
Apesar do ainda baixo consumo se nos comparamos a outros países (uma média de aproximadamente 2 litros per capita), e com uma tradição vitivinícola ainda recente se em relação aos países europeus e mesmo a nossos vizinhos Argentina e Chile, o Brasil vem tomando consciência de que o vinho é realmente uma bebida diferenciada e que traz consigo um fator de legitimação social.
Conhecer mais sobre suas varietais, regiões produtoras e saber harmonizá-lo tornou-se conditio sine qua non para uma inserção social positiva, pois revela, quase que invariavelmente, um alto grau de cultura, refinamento e poder aquisitivo. Já no longínquo século XV François Rabelais já afirmava que “um homem nobre nunca odeia um bom vinho: é um preceito monarcal”.
Desde a abertura da economia na década de 90, o Brasil vem sendo alvo de marcas de luxo, caracterizando-se como o segundo melhor mercado emergente no mundo para esse tipo de produtos, o que se explica, até certo ponto, pelo caráter hedonista do brasileiro, que valoriza sobremaneira a estética, como se verifica facilmente pela enorme quantidade de cirurgias plásticas que são realizadas a cada ano.
Nesse panorama, o vinho se insere indubitavelmente como um produto de luxo. Ao analisar-se as propagandas sobre vinho e espumantes, fica muito claro que as imagens publicitárias visam esse perfil de consumidor. Em geral trazem pessoas elegantes e vestidas à moda, sorrisos largos, um belo jardim, pratos finos à mesa e taças de cristal! Já em 1968, a vinícola Aurora veiculava um anúncio sobre seu vinho “Precioso”, fazendo sua ambientação em uma mesa com pratos de lagostas e camarões gigantes, e folhagens ao fundo. Será que da década de 70 para cá, algo mudou? Parece-nos que não…
Fatores básicos como a escolha da taça adequada, a temperatura de serviço, a variável quantidade de vinho a ser colocada na taça – caso seja um tinto ou branco -, e a própria forma de segurá-la causam uma impressão social positiva, seja numa reunião de negócios ou num contexto romântico de conquista.
Nesse contexto, por mais que acreditemos na necessidade de democratização da cultura do vinho e lutemos para que essa bebida se torne mais acessível à mesa do brasileiro, o fato é que ainda representa luxo e glamour. O vinho possui uma “aura” elevada, como já apontava Tom Standage, em “A história do mundo em seis copos”.
De qualquer forma, nem todo luxo precisa ser caro, mas é certo que todo luxo merece ser apreciado com o respectivo protocolo. Assim é com o vinho, uma bebida indubitavelmente social, elegante e que, nos dias de hoje, pode ser encontrada no mercado a preços mais acessíveis, mas que exige do consumidor um certo preparo para ser apreciada de forma plena.
Afinal, venhamos e convenhamos que celebrar com vinhos e espumantes é muito mais chique!
Um beijo e um brinde a todos!
Marcio Morena
Marcio Morena é advogado, professor universitário e enófilo
Da redação
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