VINHO ROSÉ
Ao tratar de vinhos rosé no Brasil é inevitável não recordar do célebre conto de fadas “O patinho feio”, do dinamarquês Hans Christian Andersen, publicado pela primeira vez em 11 de novembro de 1843 e que conta a história de um filhote de cisne que é chocado no ninho de uma pata.
Por ser diferente dos demais filhotes, o pobre é perseguido, ofendido e maltratado por todos os patos até que, certo dia, cansado de tantas humilhações, foge do ninho. Sua sorte muda quando uma família de camponeses o encontra e o ajuda a superar o inverno até a chegada da primavera, quando a família devolve-o para o lago, e o “patinho” abre as suas lindas asas e se une a um majestoso bando de cisnes, sendo então reconhecido não só como tal, mas como o mais belo de todos!
O vinho rosé no Brasil carrega esse estigma de “patinho feito” e, equivocadamente, é injustamente subvalorizado quando, em verdade – como sempre ressalto – , não há nada de mais delicioso, elegante, refrescante, e adequado ao clima brasileiro, do que uma taça de um bom rosé adequadamente resfriado!
Em alguns países da Europa, sobretudo naqueles banhados pelo Mar Mediterrâneo (como Espanha, França e Itália), a situação é bem outra. Os rosés são elaborados em grandes quantidades e bastante apreciados pelos consumidores, principalmente no verão.
Apresentando uma coloração intermediária entre os tintos e brancos, que vai de tons alaranjados ao púrpura, variando de acordo com as uvas e técnicas de fermentação utilizadas, os vinhos rosé geralmente apresentam aromas de bagas e outras frutas vermelhas (como framboesas, cerejas, morangos e arando). Alguns apresentam um ponto mais intenso de amoras ou ameixas, outros, por sua vez, rosa mosqueta. Outrossim, podem-se encontrar notas herbáceas nos vinhos mais límpidos.
Em boca esses aromas de bagas e de frutas vermelhas devem ser confirmados, bem como uma acidez equilibrada que lhe aporta refrescância, mesmo um toque cremoso e pode ser perceptível nos vinhos rosé mais robustos. Mas note-se que, apesar de sua leveza, o retrogosto deve ser proeminente.
O rosé contextualiza muito bem com uma refeição ao ar livre, e harmoniza com saladas leves, mariscos, crustáceos, frutas e queijo suaves… É um vinho versátil, que resulta excelente com pratos levemente temperados, devendo-se tomar cuidado para não anular o seu delicado sabor!
Ao comprar um vinho rosé, deve-se estar atento ao ano de sua elaboração, ou seja, quanto mais jovem melhor, pois trata-se de um vinho delicado, não concebido para envelhecer! Portanto, nada de deixá-lo na adega… Consuma-o imediatamente!
Vamos então comentar sobre dois vinhos rosés que têm feito muito sucesso no Brasil, sendo, o segundo, inclusive, brasileiro.
O primeiro deles é o “Rosé de Piscine”. Um vinho muito refrescante, como o nome já sugere, perfeito para se tomar à beira da piscina nos dias ensolarados e quentes, e que apresenta como novidade um pouco de açúcar residual a mais, próprio da sua varietal principal, a Negrette, convidando o consumidor a degustá-lo propositalmente com cubos de gelo, o que vai torná-lo ainda mais leve e refrescante.
Na sua composição estão: Negrette, 60%, Syrah 30%, e Cabernet Sauvignon 10%. É produzido no sudoeste da França, e apresenta graduação alcoólica baixa: 11%. De coloração salmão pálido, quase transparente, com reflexos azulados, apresenta no nariz notas de limão e morango, e na boca um paladar harmonioso. Tem corpo leve e boa acidez. Um vinho muito fácil!
O segundo rosé que comentaremos é o da Villa Francioni, um blend produzido em São Joaquim (SC), e que já angariou diversos prêmios. É uma verdadeira festa de varietais, sendo oito no total: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Sangiovese, Syrah, Petit Verdot, Pinot Noir, Merlot e Malbec.
Apresenta um aroma de frutas e flores, lembrando romã, pêssego e rosas, destacados por um discreto tom cítrico. É um vinho leve e delicado, com acidez adequada que lhe proporciona frescor em boca, e ainda traz uma curiosidade: tornou-se um vinho famoso quando a cantora Madonna, durante sua passagem pelo Brasil, em 2009, o conheceu e se encantou com seu sabor peculiar. Além de tudo, sua garrafa diferenciada é muito elegante.
Espero ter contribuído para que todos possam olhar para os vinhos rosé não mais como o patinho feio, mas como o belo cisne que é no mundo dos vinhos!
Um beijo e um brinde a todos!
Marcio Morena
*Marcio Morena é advogado, professor universitário e enófilo.